Depois de muito tempo resolvi aparecer por aqui de novo. Vou explicar...
Esse post é um pouco denso e eu levei anos para entender os pontos que vou tentar expor aqui. Sugiro que a cada ponto, você pare e reflita sobre o que estou tentando dizer.
Tem algo de errado
Já percebeu que a vida parece estar cada vez mais difícil? Parece que o objetivo de guardar R$x para poder relaxar já não é mais o suficiente e talvez você comece a pensar que é preciso R$2x. Parece que o sistema de alguma forma nos obriga a ficar dentro do sistema.
Fico acompanhando outros blogs FIRE e quase todos tentam bater uma porcentagem ao ano, ou ficamos de olho em alguma métrica para ter uma noção de como nossos investimentos estão andando: CDI, IPCA, SP500, IBOV, etc.
Mas parece que tem algo de errado nisso. Precisamos ter 2 empregos: Primeiro o emprego que faz a gente ganhar o nosso dinheiro; Segundo como investidor que tem que gastar horas e horas estudando como investir para que o nosso dinheiro não vire pó (inflação).
Isso não é justo! Resolvi dar um passo pra trás e entender o que está acontecendo no mundo.
O dinheiro está quebrado
É muito difícil explicar tudo em um post, mas em resumo o dinheiro está quebrado. E somos muito tolos para enxergar.
Problema com a métrica de inflação
Nos falam que o dinheiro perde uma porcentagem do valor de compra ao ano (IPCA, CPI nos EUA, e qualquer métrica similar) e não entendemos de verdade essa métrica.
Qualquer métrica para calcular a inflação (perda do poder de compra) de uma cesta de produtos/serviços está errada. Isso acontece porque os preços influenciam as decisões das pessoas, fazendo com que a cesta mude e a métrica não consiga capturar o que ela promete.
Um exemplo simplificado e exagerado para facilitar a compreensão:
Imagine que uma pessoa receba $10,00 por dia. O único consumo dela é um prato de filé mignon de alta qualidade (no valor de $10,00). Ou seja, a cesta de produtos/serviços é de exatamente $10,00 por dia.
Porém, imagine que os valores das coisas subam. Tudo passa a custar muito mais. Produtos e serviços estão mais caros.
Agora, a mesma pessoa tem que se adaptar, já que ela recebe $10,00 e não consegue mais comprar o mesmo prato. Então, ao invés de filé de alta qualidade, ela passa a consumir um hamburger de carne de segunda. Esse hamburger de carne de segunda está custando $10,00 pois tudo está custando mais caro.
Porém, adivinha qual é o valor da cesta medida pela métrica da inflação? Os mesmos $10,00! - Ou seja, nesse exemplo a inflação medida pelo índice seria de 0%!
O exemplo foi propositalmente exagerado. Mas pare e pense sobre isso. A cesta de produtos e serviços usado nos índices muda com o tempo! Porém, o preço influencia o que as pessoas podem comprar, e isso altera a cesta das pessoas - que por sua vez altera o índice que mede a cesta. É impossível saber se as pessoas estão mudando a cesta de preferencia porque elas querem (eg: não compram mais disco de vinil) ou se elas são forçadas devido à perda do poder de compra do dinheiro. Resumidamente, a inflação é muito (mas muito) maior do que tentam nos informar.
A tecnologia é deflacionária
Oferta e demanda influenciam no preços das coisas. Quanto mais oferta, menor os preços.
Como civilização, nós estamos sempre melhorando nossas tecnologias. Com o passar dos anos a produção sempre tende a ser maior do que no passado. Isso é um fator deflacionário. Por que não vemos os preços das coisas caindo então?
Por exemplo, pense no preço do tomate (ou qualquer legume) em 1994. Você realmente acha que desde 1994 não conseguimos ter melhores equipamentos, melhores nutrientes, melhores técnicas de agricultura, de transporte, de armazenamento, etc, para que a produção de tomate fosse maior (e melhor) hoje do que 30 anos atrás? O preço do tomate era pra ser mais barato hoje do que 1994, mas na verdade ele é muitas vezes maior.
Nota: Existe um setor onde podemos ver um progresso tecnológico maior do que a própria perda do poder de compra do dinheiro: o setor de tecnologia. Eg: Hoje é muito mais barato assistir 30 séries/filmes por mês do que 20 anos atrás (com locadoras de vídeos e afins).
Recomendação de leitura: "The Price of Tomorrow: Why Deflation is the Key to an Abundant Future".
Moeda fiduciária não tem limite
A melhor forma de entendermos o que está acontecendo é vendo a massa monetária existente. O gráfico abaixo mostra a quantidade de moeda M2:
Não há limite para a criação de dinheiro!
Atualmente a maior parte da criação de dinheiro é feita através de crédito. Em um resumo simplificado, funciona mais ou menos assim (vídeo do Fernando Ulrich): Uma pessoa (família ou empresa) quer comprar uma casa no valor de $1M. Ela vai até o banco e financia essa casa. O banco paga $1M para quem está vendendo. Porém o banco não tira do seu cofre $1M. Esse valor entra como um saldo negativo informado ao banco central até que o novo devedor termine de pagar as parcelas (depois de 30 anos). Nesse exato momento, um valor de $1M foi criado do nada.
O efeito cantillon agora faz com que o vendedor da casa (que recebeu $1M) seja um beneficiário da criação de dinheiro. Ele pode gastar no que ele quiser, antes que o dinheiro entre na economia de verdade e faça os preços subirem.Quem você acha que são os maiores beneficiários nessa história? Pois é... quem tem poder político de estar perto da impressora de dinheiro. Toda vez que você ver alguma notícia falando em "investimento" público, ou crédito para construção de alguma coisa, lembre-se do efeito cantillon e que as empresas que receberam esse financiamento serão diretamente beneficiadas à custa de todos os outros (sim, ao longo prazo o preço do tomate vai subir!).
Os incentivos estão errados
A criação de dinheiro fácil distorce toda a economia. Diretamente ela muda os incentivos. É muito mais lucrativo ser político e amigo de quem está no controle da impressora do dinheiro! É muito arriscado ir contra o status-quo e correr o risco de ser deixado de lado. Pessoas, famílias, escolas, universidades, e empresas indiretamente são obrigadas a "dançar a dança do sistema" - ou correr o risco de ser excluídas da impressora de dinheiro fácil. Isso sim é a verdadeira corrida dos ratos!
Você consegue imaginar a quantidade de energia e tempo que são jogado fora no mundo todo por conta disso? Planilhas que não server para nada, reuniões sem sentido, burocracias, regulamentações,... É muito triste pensar em todo o potencial da humanidade que está sendo desperdiçado. E sequer notamos isso.
Um vídeo e leitura que pode ajudar a explicar o que estou tentando dizer: "Fiat Ruins Everything - Jimmy Song".
Saindo do sistema
Tudo parece um pouco deprimente e sem solução. Até achei que o mundo ia acordar. Iriamos ter cada vez mais políticos que entenderiam as consequências de seus atos, iriam diminuir os gastos, a criação de crédito fácil, e consequentemente a criação de dinheiro. Porém eu estava enganado.
Sempre haverá motivos para gastar mais. Sempre vão dar um jeito de criar dinheiro. Sempre irão achar desculpas pelo dinheiro estar valendo cada vez menos. E mesmo que apareça alguém, depois de alguns anos o sistema vai engolir, e o descontrole vai voltar.
Bitcoin resolve tudo isso
Foi então que eu resolvi parar e estudar de verdade o que era esse tal de Bitcoin. No começo achei que era uma moedinha virtual, no estilo de joguinhos on-line. Até comprei um pouco para investir. Mas a verdade é que eu não entendia nada. Depois de muito tempo e dedicação estudando o assunto posso dizer que vejo uma luz no fim do túnel.
Infelizmente é impossível explicar o Bitcoin aqui. Levaria dezenas de posts só para começar a explicar. Então eu vou apenas colocar algumas referências que foram muito úteis para mim. E no final desse post adicionei um breve resumo para despertar a sua curiosidade.
Apenas um alerta: Uma vez que você entende o Bitcoin, não tem mais volta! É como o Neo escolhendo sair da Matrix.