segunda-feira, 13 de novembro de 2023

O sistema está quebrado... mas existe uma luz no fim do túnel!

Depois de muito tempo resolvi aparecer por aqui de novo. Vou explicar...

Esse post é um pouco denso e eu levei anos para entender os pontos que vou tentar expor aqui. Sugiro que a cada ponto, você pare e reflita sobre o que estou tentando dizer.

Tem algo de errado

Já percebeu que a vida parece estar cada vez mais difícil? Parece que o objetivo de guardar R$x para poder relaxar já não é mais o suficiente e talvez você comece a pensar que é preciso R$2x. Parece que o sistema de alguma forma nos obriga a ficar dentro do sistema.

Fico acompanhando outros blogs FIRE e quase todos tentam bater uma porcentagem ao ano, ou ficamos de olho em alguma métrica para ter uma noção de como nossos investimentos estão andando: CDI, IPCA, SP500, IBOV, etc.

Mas parece que tem algo de errado nisso. Precisamos ter 2 empregos: Primeiro o emprego que faz a gente ganhar o nosso dinheiro; Segundo como investidor que tem que gastar horas e horas estudando como investir para que o nosso dinheiro não vire pó (inflação).

Isso não é justo! Resolvi dar um passo pra trás e entender o que está acontecendo no mundo.

O dinheiro está quebrado

É muito difícil explicar tudo em um post, mas em resumo o dinheiro está quebrado. E somos muito tolos para enxergar.



Problema com a métrica de inflação

Nos falam que o dinheiro perde uma porcentagem do valor de compra ao ano (IPCA, CPI nos EUA, e qualquer métrica similar) e não entendemos de verdade essa métrica.

Qualquer métrica para calcular a inflação (perda do poder de compra) de uma cesta de produtos/serviços está errada. Isso acontece porque os preços influenciam as decisões das pessoas, fazendo com que a cesta mude e a métrica não consiga capturar o que ela promete.

Um exemplo simplificado e exagerado para facilitar a compreensão:

Imagine que uma pessoa receba $10,00 por dia. O único consumo dela é um prato de filé mignon de alta qualidade (no valor de $10,00). Ou seja, a cesta de produtos/serviços é de exatamente $10,00 por dia.

Porém, imagine que os valores das coisas subam. Tudo passa a custar muito mais. Produtos e serviços estão mais caros.

Agora, a mesma pessoa tem que se adaptar, já que ela recebe $10,00 e não consegue mais comprar o mesmo prato. Então, ao invés de filé de alta qualidade, ela passa a consumir um hamburger de carne de segunda. Esse hamburger de carne de segunda está custando $10,00 pois tudo está custando mais caro.

Porém, adivinha qual é o valor da cesta medida pela métrica da inflação? Os mesmos $10,00! - Ou seja, nesse exemplo a inflação medida pelo índice seria de 0%!

vs

O exemplo foi propositalmente exagerado. Mas pare e pense sobre isso. A cesta de produtos e serviços usado nos índices muda com o tempo! Porém, o preço influencia o que as pessoas podem comprar, e isso altera a cesta das pessoas - que por sua vez altera o índice que mede a cesta. É impossível saber se as pessoas estão mudando a cesta de preferencia porque elas querem (eg: não compram mais disco de vinil) ou se elas são forçadas devido à perda do poder de compra do dinheiro. Resumidamente, a inflação é muito (mas muito) maior do que tentam nos informar.

A tecnologia é deflacionária

Oferta e demanda influenciam no preços das coisas. Quanto mais oferta, menor os preços.

Como civilização, nós estamos sempre melhorando nossas tecnologias. Com o passar dos anos a produção sempre tende a ser maior do que no passado. Isso é um fator deflacionário. Por que não vemos os preços das coisas caindo então?

Por exemplo, pense no preço do tomate (ou qualquer legume) em 1994. Você realmente acha que desde 1994 não conseguimos ter melhores equipamentos, melhores nutrientes, melhores técnicas de agricultura, de transporte, de armazenamento, etc, para que a produção de tomate fosse maior (e melhor) hoje do que 30 anos atrás? O preço do tomate era pra ser mais barato hoje do que 1994, mas na verdade ele é muitas vezes maior.

Nota: Existe um setor onde podemos ver um progresso tecnológico maior do que a própria perda do poder de compra do dinheiro: o setor de tecnologia. Eg: Hoje é muito mais barato assistir 30 séries/filmes por mês do que 20 anos atrás (com locadoras de vídeos e afins).

Recomendação de leitura: "The Price of Tomorrow: Why Deflation is the Key to an Abundant Future".

Moeda fiduciária não tem limite

A melhor forma de entendermos o que está acontecendo é vendo a massa monetária existente. O gráfico abaixo mostra a quantidade de moeda M2:

Não há limite para a criação de dinheiro!

Atualmente a maior parte da criação de dinheiro é feita através de crédito. Em um resumo simplificado, funciona mais ou menos assim (vídeo do Fernando Ulrich): Uma pessoa (família ou empresa) quer comprar uma casa no valor de $1M. Ela vai até o banco e financia essa casa. O banco paga $1M para quem está vendendo. Porém o banco não tira do seu cofre $1M. Esse valor entra como um saldo negativo informado ao banco central até que o novo devedor termine de pagar as parcelas (depois de 30 anos). Nesse exato momento, um valor de $1M foi criado do nada.

O efeito cantillon agora faz com que o vendedor da casa (que recebeu $1M) seja um beneficiário da criação de dinheiro. Ele pode gastar no que ele quiser, antes que o dinheiro entre na economia de verdade e faça os preços subirem.

Quem você acha que são os maiores beneficiários nessa história? Pois é... quem tem poder político de estar perto da impressora de dinheiro. Toda vez que você ver alguma notícia falando em "investimento" público, ou crédito para construção de alguma coisa, lembre-se do efeito cantillon e que as empresas que receberam esse financiamento serão diretamente beneficiadas à custa de todos os outros (sim, ao longo prazo o preço do tomate vai subir!).

Os incentivos estão errados

A criação de dinheiro fácil distorce toda a economia. Diretamente ela muda os incentivos. É muito mais lucrativo ser político e amigo de quem está no controle da impressora do dinheiro! É muito arriscado ir contra o status-quo e correr o risco de ser deixado de lado. Pessoas, famílias, escolas, universidades, e empresas indiretamente são obrigadas a "dançar a dança do sistema" - ou correr o risco de ser excluídas da impressora de dinheiro fácil. Isso sim é a verdadeira corrida dos ratos!

Você consegue imaginar a quantidade de energia e tempo que são jogado fora no mundo todo por conta disso? Planilhas que não server para nada, reuniões sem sentido, burocracias, regulamentações,... É muito triste pensar em todo o potencial da humanidade que está sendo desperdiçado. E sequer notamos isso.

Um vídeo e leitura que pode ajudar a explicar o que estou tentando dizer: "Fiat Ruins Everything - Jimmy Song".

Saindo do sistema

Tudo parece um pouco deprimente e sem solução. Até achei que o mundo ia acordar. Iriamos ter cada vez mais políticos que entenderiam as consequências de seus atos, iriam diminuir os gastos, a criação de crédito fácil, e consequentemente a criação de dinheiro. Porém eu estava enganado.

Sempre haverá motivos para gastar mais. Sempre vão dar um jeito de criar dinheiro. Sempre irão achar desculpas pelo dinheiro estar valendo cada vez menos. E mesmo que apareça alguém, depois de alguns anos o sistema vai engolir, e o descontrole vai voltar.

Bitcoin resolve tudo isso

Foi então que eu resolvi parar e estudar de verdade o que era esse tal de Bitcoin. No começo achei que era uma moedinha virtual, no estilo de joguinhos on-line. Até comprei um pouco para investir. Mas a verdade é que eu não entendia nada. Depois de muito tempo e dedicação estudando o assunto posso dizer que vejo uma luz no fim do túnel.

“The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks.”

Infelizmente é impossível explicar o Bitcoin aqui. Levaria dezenas de posts só para começar a explicar. Então eu vou apenas colocar algumas referências que foram muito úteis para mim. E no final desse post adicionei um breve resumo para despertar a sua curiosidade.

Apenas um alerta: Uma vez que você entende o Bitcoin, não tem mais volta! É como o Neo escolhendo sair da Matrix.

No mundo só existem duas coisas escassas: O seu tempo e o Bitcoin.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Tirinhas - Campeão em cheirar flores

Tirinha que ilustra muito bem o mundo corporativo. Tudo é competitivo, todos estão correndo e você é um estranho por não fazer o mesmo.

E você, é mais parecido com o "Tipo A" ou "Tipo B"?

Tradução:

    Quadro1: "Oloco, calma ai, amigo."

    Quadro2: "Você não sabe que as vezes precisamos parar e cheirar as flores?"

    Quadro3:

    Quadro4: "Campeão em cheirar flores!"

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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Moral e independência financeira (parte 2)

Na primeira parte eu abordei a questão da moralidade em relação a pessoas que decidem parar de trabalhar. Aqui vou discutir um segundo tópico relacionado:

Moralidade de um indivíduo que tem um grande valor monetário

Nossa sociedade tem uma visão geralmente negativa de um indivíduo que possue muito dinheiro em posse. Muitos dizem que não é justo uma única pessoa ter uma quantia exorbitante de dinheiro, e deveria fazer X, Y, ou Z com ele (eg: doar).

Vamos tentar entender o que é o dinheiro e de onde ele vem.

O dinheiro nada mais é do que uma forma de trocas. Há centenas ou milhares de anos atrás a civilização trocava um bem por outro (por exemplo, um litro de leite por um kg de arroz). Porém, é muito mais fácil utilizar um meio em comum de fácil transporte e de alta durabilidade (um kg de arroz não cabe no seu bolso e deteriora depois de alguns dias/meses). Assim as pessoas começaram a utilizar um meio intermediário que hoje chamamos de dinheiro. No começo desse processo era muito comum utilizar metais como ouro e prata, mas hoje em dia o governo nos "obriga" a usar a moeda do país (vai me dizer que você realmente quer utilizar o 'real' brasileiro?). [Recomendo a leitura do livro "O Que o Governo Fez Com o Nosso Dinheiro?" de "Murray N. Rothbard"].

Man in Blue Top Giving Box to Man in Gray Top

É importante notar que as pessoas QUEREM fazer trocas. Isso as deixam mais "ricas" e satisfaz suas necessidades. Quando você vai no supermercado, você está procurando as mercadorias que você QUER (digamos 1 kg de arroz). Você está disposto a fazer a troca de dinheiro que você tem por arroz que você não tem. O supermercado, em contrapartida, quer fazer a troca do dinheiro pelo arroz. Quando a troca acontece, ambos saem felizes. Você tem o arroz que você queria, e o mercado tem o dinheiro que ele queria. Caso a troca não fosse beneficial para alguém, ela não aconteceria. Foi você, com todo o valor subjetivo, que decidiu que 1kg de arroz vale mais do que o dinheiro que você deixou no mercado. Da mesma forma, o supermercado decidiu que o dinheiro recebido vale mais do que 1kg de arroz.

Isso significa que a economia/sociedade NÃO é um "jogo de soma zero"! Toda vez que acontece uma troca voluntária (pode chamar de compra de produto ou serviço, se quiser), ambas as partes (produtor e cliente) saem melhor do que estavam antes. A sociedade como um todo fica mais rica. Porém, geralmente vemos apenas o dinheiro que ficou do lado do comerciante, e esquecemos do produto ou serviço que ficou do lado do cliente.

Outro ótimo exemplo foi dado pelo Dr. Yaron Brook. Quem perde ao comprar um celular? Digamos que custou R$1000,00. Quanto vale esse celular? Na minha visão de cliente ele vale muito mais do que R$1000,00! Caso contrário eu não teria comprado e preferiria ficar com o dinheiro. Com o celular eu posso acessar a internet, me comunicar com os amigos e familiares, tirar fotos, fechar negócios, etc. É um valor subjetivo e cada indivíduo julga se o celular vale mais ou menos do que R$1000,00! Do outro lado, quanto custou para a fabricante produzir o celular? Com certeza menos do que R$1000,00. Senão seria um negócio que dá prejuízo. No momento em que a troca é executada, ambas as partes enriquecem! Eu fico com o celular que na minha opinião vale mais que R$1000,00 e a fabricante fica com o dinheiro que paga a produção do celular e o restante como lucro. Ambos saímos ganhando!!!

Person Holding Iphone Showing Social Networks Folder

Um examplo específico de um indivíduo muito rico, é o Jeff Bezos (CEO da Amazon) que possui bilhões em sua fortuna. Se olharmos apenas o valor que ele possui, é verdade que ele é individualmente muito rico. Porém não podemos nos esquecer das milhões de pessoas que tiveram suas vidas melhoradas por causa dele e de seu negócio. Com certeza a sociedade como um todo ficou muito mais "rica" do que o valor monetário que o Jeff Bezos possui - caso contrário as pessoas não teriam utilizado os produtos/serviços e teriam preferido ficar com seu dinheiro. É muito difícil ver o lado subjetivo da melhoria dos clientes, mas é muito fácil julgar o alto valor adquirido pela empresa.

Atualmente moro no EUA e posso dizer com toda a certeza que a Amazon (empresa de Jeff Bezoz) revolucionou a área de logística do país (e provavelmente do mundo). A maioria das famílias americanas utilizam o serviço de uma maneira ou de outra. A sociedade como um todo está muito melhor, a qualidade de vida muito melhor, do que era antes de existir a Amazon. Ela não solucionou todos os problemas da sociedade, mas isso é irrelevante. Ainda existem pessoas passando dificuldades. Ainda existem países com a maioria da população na miséria. Ainda existem pessoas desempregadas. Mas todos esses problemas NÃO foram causados porque o Jeff Bezos tem mais dinheiro no bolso. É absurdo querer que uma única pessoa ou empresa resolva todos os problemas do planeta ao mesmo tempo.

Birds-eye View Photo of Freight Containers

Em resumo: Quando uma pessoa possui um grande montante de dinheiro, desde que seja obtido de maneira de livre troca (sem roubo/coerção), é porque quem deu o dinheiro para aquela pessoa recebeu muito mais em troca. No final, a sociedade está muito melhor.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Moral e independência financeira (parte 1)

Um dos comentários que vejo quando o assunto é independência financeira é sobre a moralidade das pessoas que juntam um grande montante de dinheiro para se aposentar. Argumentos surgem questionando se tais pessoas não seriam mais úteis para a sociedade se continuassem trabalhando e produzindo, ao invés de parar e não produzir mais nada. Outro ponto ataca principalmente o grande valor monetário guardado por apenas um único indivíduo, ao invés de estar distribuído entre as pessoas. Vou comentar sobre ambos pontos separadamente. Neste post falo sobre o primeiro, e no próximo sobre o segundo.

Moralidade em parar de trabalhar

Antes de discutir este ponto é muito importante deixar claro o significado de "aposentadoria antecipada" ou "parar de trabalhar". Quando a comunidade FIRE fala em independência financeira e aposentadoria antecipada, ela apenas diz que você terá dinheiro suficiente para não precisar mais trabalhar no seu emprego atual. O que você fará depois que atingir o montante necessário é total liberdade sua. Este é um dos problemas em se usar a palavra "aposentadoria" ou em falar que vai "parar de trabalhar". Pois a maioria das pessoas pensam que você irá levar um vida ociosa todos os dias - o que seria um tédio.

A maioria das pessoas que vejo na comunidade está buscando a independência financeira para realmente parar de trabalhar no emprego atual. Seja porque não gosta do emprego, como é o meu caso, seja por querer mais tempo livre com a família ou amigos, ou qualquer outro motivo.

Portanto, "aposentar" ou "parar de trabalhar" apenas quer dizer que você não necessariamente precisa trabalhar no formato regular, com as formalidades exigidas: Das 8h as 18h de Segunda a Sexta? CLT? 30 dias de férias por ano? Etc.

Pergunta: Isso significa que você não será útil para a sociedade agora que não terá um emprego formal (potencialmente com carteira assinada) e jornada de trabalho pré-definida? Resposta: Não!!! Muito pelo contrário. Uma vez que você é livre para fazer o que quiser, cabe a você se tornar uma pessoa útil à sociedade. Em muitos casos você poderá ser mais útil do que você jamais pensou em ser no seu antigo trabalho formal.

Mas afinal, o que é trabalho? O que é útil e não é útil? Como vou saber se serei mais útil com minhas atividades depois de "aposentar"?

Ora, qualquer atividade que possa ajudar outra pessoa é útil. E isso se aplica a pequenas coisas do nosso dia a dia também. Um exemplo disso seria uma pessoa que pretende se aposentar mais cedo para acompanhar de perto o crescimento de seu filho. Você não pode negar que provavelmente a pessoa será muito útil e estará fazendo um bem enorme para o filho por estar mais próximo. Os impactos são imensuráveis. A vida da criança pode mudar drasticamente na presença ou ausência dos pais. E essa criança pode crescer como uma pessoa melhor e ter um impacto ainda maior no mundo. Em outras palavras, conseguimos transformar o mundo em um lugar um pouquinho melhor com pequenas melhorias que fazemos.

Vejo algumas pessoas da comunidade FIRE que começam a participar de trabalhos voluntários mais ativamente, coisa que é muito difícil quando a maior parte do seu tempo é dedicado ao trabalho formal. Vejo outras que começam uma nova carreira, que de um hobby acaba virando uma profissão. Outras ainda passam a se dedicar a blogs, podcasts, livros para ajudar as pessoas que possam estar passando pelo desgaste que elas passaram. Ou você vai negar que os próprios blogs da Firesfera não tem impacto positivo na sociedade? Posso dizer categoricamente que eles me ajudaram MUITO a encontrar uma saída ao meu desconforto com o "normal" da vida corporativa, como comentei no meu primeiro post.

Uma pergunta muito válida é: "Como fazer uma comparação justa entre os benefícios que você fazia no seu emprego formal, com os benefícios que você faz com seu tempo livre?" Mensurar o primeiro (emprego formal) é geralmente mais fácil. Sabemos o que a empresa que trabalhamos faz, seus clientes, fornecedores, usuários, grande parte da cadeia envolvida. Porém é muito mais difícil medir o segundo (o que você faz no seu tempo livre), pois os impactos muitas vezes são indiretos, e muitas vezes você não tem o valor monetário para comparar.

Vou usar o meu próprio caso como exemplo. Trabalho na área de TI em uma empresa multinacional a quase 10 anos. É fácil ver o benefício que a empresa traz para a sociedade através de seus produtos. Porém, tenho a certeza que minha produtividade é muito baixa e eu seria muito mais útil fora da empresa. Na verdade, eu tenho a sensação que a produtividade da maioria das pessoas que trabalham na empresa é baixa, pois passam a maior parte do tempo resolvendo problemas que não deveriam nem existir, ou seja, a maior parte do tempo dos funcionários não é utilizada pela sociedade.

Pessoalmente acredito estar perto da minha independência financeira. Não sei exatamente o que vou fazer depois. Primeiramente vou usar um tempo para me "desintoxicar", melhorar minha saúde física e mental. Depois, existem várias coisas que sempre gostaria de ter feito mas nunca tive tempo e energia para fazer (porque meu trabalho atual consome a maior parte do meu tempo e quase toda minha energia). Um exemplo simples é poder participar em projetos open-source. Caso você não saiba, existem vários softwares livres e gratuitos que as pessoas fazem porque gostam. Mesmo que você não use diretamente nenhum deles (eu duvido), você com certeza usa indiretamente. O sistema operacional Linux é o melhor exemplo e vários servidores utilizam, ou o Android que é utilizado na maioria dos celulares no mundo.

Para concluir, se "aposentar" NÃO significa ficar o resto da sua vida ocioso. Na verdade significa ter liberdade e tempo para fazer aquilo que você gosta ou sempre sonhou. Não é fácil medir o que é mais impactante para a sociedade como um todo: i) ter você trabalhando em um emprego formal, ou ii) ter você livre fazendo seus projetos pessoais. Entretanto, é fácil dizer que você terá muito mais chance em ser mais útil se estiver feliz com o que está fazendo. Se você está infeliz com a sua situação atual, é muito provável que a sociedade como um todo irá se beneficiar se você começasse a fazer algo que goste e te motive.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Odeio o meu trabalho! Pena que paga bem!

Vou contar um pouco sobre o meu trabalho e o porquê ando tão infeliz com ele.

Trabalho na área de TI há quase 10 anos em uma grande empresa internacional - o que me possibilitou mudar para o EUA em 2018.

No primeiro ano era tudo maravilhoso. Me sentia feliz em aprender como a empresa funcionava, como era o processo de trabalho, o código desenvolvido pelos programadores da empresa, etc. Ficava feliz em ser útil a qualquer um que pedisse, e me sentia feliz nas reuniões quando podia ajudar com alguma coisa. É uma fase muito similar ao começo de um relacionamento. Tudo é muito bonito e gostoso, os defeitos não incomodam e você finge que não são importantes. Minha única preocupação no primeiro ano era com a minha síndrome do impostor. Muitas vezes me achava inferior ao esperado pela empresa, o que me fazia trabalhar mais do que eu gostaria. Nesse período, eu falava que tinha obtido o sucesso profissional, onde eu estava ganhando dinheiro para fazer algo que eu faria de graça.

Conforme o tempo foi passando, em um processo natural, eu fui crescendo. Agora as tarefas não eram mais pequenas e isoladas - como "implementar a funcionalidade X" - mas envolviam grandes discussões e planejamento. Coisas simples muitas vezes levavam semanas ou até meses para serem executadas. Documentos e mais documentos eram criados para convencer algum superior que mal entendia o que estávamos fazendo. Toda minha energia e alegria em ser útil e produzir algo para a empresa era consumido em uma tempestade de burocracia e processos. No começo tentei entender a situação. Afinal, uma empresa precisa ter controle sobre o que está acontecendo, não? Alguns processos passaram a ser mais automáticos no meu ponto de vista - apesar de não concordar muito eu fazia mesmo assim o mínimo necessário.

Por incrível que pareça, a empresa que trabalho é uma das melhores em termos de agilidade e pouca burocracia. Talvez só perca para start-ups onde realmente não há quase processo nenhum. Confirmo isso vendo amigos e relatos de pessoas que trabalham em outras empresas de TI e fico pensando o quão mais infeliz estaria no lugar deles.

Gradualmente esses trabalhos que na minha opinião são na maioria das vezes desnecessários foram aumentando e a minha paixão pelo trabalho foi diminuindo. Minha sensação de "sucesso profissional" onde recebia dinheiro para fazer algo que faria de graça, foi mudando para uma relação mais profissional - eu dou o meu tempo para a empresa e em troca recebo meu salário. O que me deixava cada vez mais p@!&o era ver que todos pareciam jogar o jogo como se todo o processo fosse algo natural. E as poucas vezes que me expressei fui visto com mal olhos. Aos poucos fui me sentindo isolado por não gostar de participar do jogo do mundo corporativo. Happy hour? Evitava sempre, pois sei que envolvia ego das pessoas. Almoço com o time? A maioria das vezes era mais para conversar sobre trabalho do que almoçar. "Fun event"? Não obrigado - é impossível algo ser "fun" com várias pessoas com ego inflado jogando o jogo empresarial.

Finalmente cheguei em um estágio onde não quero nem levantar da cama. Antigamente eu fazia horas extras sem problema nenhum, afinal me sentia feliz em ser útil. Agora, eu evito ao máximo. Só tenho vontade de fazer o mínimo necessário para que o processo de avaliação pessoal não venha negativo. Porém, apesar de não trabalhar ativamente fora do horário de trabalho eu me pego várias vezes pensando ou resolvendo problemas na minha mente. Esse é um dos pontos negativos em trabalhar com resolução de problemas: você pode até desligar o computador, mas é muito difícil desligar a mente. Acordo várias vezes de madrugada pensando nas reuniões que vão acontecer, ou em como resolver um problema específico. É comum ter sonhos onde estou trabalhando com o meu time resolvendo coisas que realmente estão acontecendo na vida real. Entretanto, 90% dos problemas existentes no meu trabalho não deveriam nem existir (processos, status, planilhas, documentação, reuniões). O restante acaba sendo consumido pela ineficiência de uma empresa grande - muitas coisas precisam ser alinhadas entre times diferentes que seguem diferentes prioridades.

Posso dizer tranquilamente que "Odeio o meu trabalho!". Mas é uma pena que ele paga bem. Caso contrário já teria tirado essas algemas de ouro e procurado um outro emprego.

Para finalizar o relato, existem outros pontos na área de TI que me deixam bem desconfortável. Ficou claro que burocracia, reuniões e documentos são uma parte importante no meu descontentamento. Mas isso acontece mais conforme o cargo vai aumentando. Em um ponto mais geral, me incomoda bastante como a área de TI adotou cegamente "Machine Learning" (ML), onde a máquina aprende e resolve o problema para você. Meu maior desapontamento com ML é com todo o ambiente que é criado, onde você se sente obrigado a utilizar uma técnica de ML mesmo para coisas que não fazem sentido. Vários engenheiros são treinados na área e não se questionam em mais nada. São de certa forma profissionais altamente capacitados e ao mesmo tempo zumbis que não pensam. Porém esse é um assunto bem complexo para escrever neste post. Talvez eu escreva um post sobre os problemas de ML no futuro - mesmo não tendo muita relação direta com o blog.